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quarta-feira, 06 abril 2022 / Published in Sem categoria

Cheguei em Copa…e não estou sozinha.

Então..se você me segue no meu instagram @cacaustyle , já leu que eu decidi me mudar da zona norte do RJ e estou morando em Copacabana.

Não, essa NÃO é a vista da minha janela. Ainda rs

Há um mundo de coisas passando na minha mente sobre tudo que diz respeito a essa mudanca, e vou tentar falar disso em posts.

Hoje me vieram à mente referências que eu trago da infância e adolescência, de mulheres negras que tinham uma relação com a zona Sul, com Copa, especialmente.

Minhas tias maternas e minha mãe, trabalharam aqui – Minhas tias no comércio e em confecções em Copa e Botafogo; Minha mãe , como doméstica, antes de casar.

Lembro da minha tia Cecília, irmã mais velha do meu pai, que foi por décadas empregada doméstica de uma familia, do bairro. Familia abastada, que naquela época (décadas 1970/1980) pagou a previdência da minha tia, que pode se aposentar como doméstica numa época em que esse direito ainda não era garantido a todas. Mas essa mesma família, tinha atitudes que minha tia sempre contava, como marcar com a faca, a goiabada cascão na geladeira, pra se certificar de que minha tia não tivesse comido a iguaria.

Quando vi o trabalho de Preta Rara dando visibilidade à forma desumana como as familias brasileiras tratam as empregadas domésticas, foi inevitável lembrar das histórias de minha tia Cecilia e de minha mãe.

Me lembro de Silvina, que morava na rua em que nasci, e também trabalhava numa casa. Lembro da filha de Silvina usando aquelas marcas famosas dos anos 80 (Company, Cantão, etc), pois as filhas da patroa de sua mãe viviam comprando os últimos lançamentos e davam peças praticamente novas pra Silvina, que levava para sua filha.

Me lembro de Pedrina, que foi amiga de minha mãe. Conhecemos Pedrina já alcóolatra e doente, mas que tinha uma gentileza e uma elegância nos gestos que saltava aos olhos em meio ao cenário em que vivia. Ela contava que morou por anos em Copacabana e tinha sido rica, “madame” para os padrões da época. Mas o marido adoeceu e morreu.

Abalada com a perda do marido, e por não saber resolver nada da vida prática, deixou que sua irmã resolvesse questões burocráticas. A irmã se aproveitando da boa-fé, fez Pedrina assinar papéis sem ler, e roubou tudo dela, inclusive a guarda do filho, na época com 3 anos. Chegamos a pensar que essa história era uma invenção de Pedrina – até que o filho dela, já adulto, apareceu um dia no quartinho onde a mãe biológica morava e constrangido, confirmou toda a história, que ele mesmo havia descoberto havia pouco.

A vida de Pedrina daria um enredo de novela… porém não teve um final feliz – apesar do reencontro com o filho e a irmã, essas pessoas fizeram muito pouco por ela depois disso, o que acentuou ainda mais seu sentimento de abandono – e ela morreu no quartinho onde a conhecemos.

E me lembro de Cenira, mãe de uma das minhas grandes amigas da adolescência, Renata (que provavelmente lerá esse post). Lembro como eu achava chic e revolucionário uma família preta morando em Copa, nos anos 80! Moravam numa vila que foi parcialmente desapropriada para dar lugar a uma das estações do Metrô do Bairro. Minha aventura era ir nos fins de semana para a casa de Cenira e conviver com Renata e seus “amigos de Copa”. Tudo ali me parecia muito moderno e diferente pra época.

Algumas dessas mulheres já partiram há algumas décadas. Mas trago na lembrança o que elas tinham em comum – a elegância, uma altivez, talvez tipicas daquelas para quem trabalhavam ou com quem conviviam. E uma postura – que nós mulheres negras conhecemos tão bem – necessária para que aqueles com quem elas conviviam não as oprimissem ainda mais. E são mulheres que pouco tiveram – se é que tiveram – a oportunidade de desfrutar algo nesse bairro em que viveram e trabalharam a maior parte de sua vida.

Quase 30 anos depois, ao decidir mudar para Copa, confesso, tive medo. De como seria estar aqui, do estranhamento de estar num bairro que boa parte da minha vida povoou meu sonho e que, no meu imaginário, tinha poucas pessoas como eu. Um senso de pertencimento que ainda é muito novo e frágil e precisa construído aos poucos nesse lugar.

Mas..
A amiga que me indicou o imóvel, e é moradora do bairro…é negra.
Minha vizinha de porta…é negra.
Já me deparei com moradores negros no meu prédio!

Hoje cedo saí pra caminhar, pra “tomar posse” da orla como minha nova pista de caminhada. E para minha satisfação, cruzei com várias mulheres negras fazendo o mesmo. E me lembrei de Tia Cecilia, Silvina, Pedrina, Cenira, e tantas outras, pensando como elas hoje se admirariam de ver tantas como elas, vivendo e desfrutando desse lugar. A sensação é que cheguei e nao estou sozinha. De alguma forma elas e tantas outras estão comigo.

E vai ver que é por isso que tenho ouvido dizer [normalmente de forma pejorativa] que Copacabana é um bairro “misturado”. Copacabana é uma grande babel de gente de todo canto vivendo, trabalhando, passeando, se divertindo , se virando como pode. E TEM MUITOS PRETOS MORANDO AQUI SIM!!!

Como já ouvi dizer, para quem mora em Ipanema, Copacabana é subúrbio..

E parece mesmo. Coparacabana pra mim é como Madureira. Só que tem praia!

Cheguei hein!

Tagged under: ancestralidade, copacabana, negritude, pertencimento, prosperidade

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Sou Cacau. Tenho 49 anos, sou profissional de TI, Lider de projetos de Diversidade & Inclusao no Mundo Corporativo, e blogueira desde 2005. Entre tantas outras coisas que poderia dizer sobre mim. Tenho um Instagram de mesmo nome, o @cacau.style.

Mas esse blog eh sobre o que mesmo? Eh sobre….vida. Falo um pouco de tudo. E sobre como tenho buscado a minha melhor versão.

E espero que ao compartilhar minha jornada, possamos todos trocar vivencias e crescer juntas - Sendo melhores profissionais, revendo nossos conceitos, cuidando da nossa saúde e beleza e das nossas relações. Porque na maturidade a gente já entendeu que somos um mundo de coisas e todas tem sua importância.

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